quinta-feira, 22 de junho de 2017

Caravana Agroecológica vai passar por seis municípios do Submédio do São Francisco


Refletir sobre modelos de desenvolvimento e sistemas agroalimentares a partir de elementos comuns a uma bacia hidrográfica. Esse é o objetivo da “Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano: nos caminhos das águas do São Francisco”, que tem início na próxima segunda-feira (26), em Juazeiro (BA). O grupo de 70 pessoas, que fará parte da Caravana, também tem como proposta dar visibilidade a denúncias, conflitos e experiências de resistência e organização de comunidades dos seis municípios que serão visitados.
No primeiro dia da Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano, os participantes vão se reunir, em Juazeiro, para um momento de integração e reflexão sobre a região do Submédio do São Francisco. No dia seguinte, a Caravana vai se dividir em duas rotas, uma com destino aos municípios de Campo Formoso e Jacobina; e outra, que passará por Casa Nova, Remanso e Campo Alegre de Lourdes. Durante três dias, integrantes de movimentos e entidades populares, universidades, centros de pesquisas e órgãos públicos vão vivenciar diferentes realidades e contrastes do Semiárido baiano.
Seis eixos orientaram a construção das rotas da Caravana: os impactos da mineração, conflitos fundiários, conflitos por água, uso e impactos de agrotóxicos, experiências agroecológicas e resistências comunitárias. Para Manoel Ailton Rodrigues, integrante do Movimento Quilombola e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre, é de suma importância os locais escolhidos para a realização da Caravana. “Os impactos nas bacias do rio Salitre e do entorno do Lago de Sobradinho são os objetivos da Caravana Agroecológica. Sem dúvida, ela vai fortalecer a luta dos respectivos comitês”, afirma.
Comunidades tradicionais, como quilombolas, pescadores e fundos de pasto também estão incluídas nas rotas dos caravaneiros/as. Como parte da programação, acontecerá, no dia 28 pela manhã, o Seminário: “Ameaça aos Territórios Tradicionais”. A atividade será realizada no salão da Colônia de Pescadores de Casa Nova e é aberta a toda a população. “A programação está bastante rica, convidamos todas comunidades por onde a Caravana estará passando para participar com a gente. Várias pessoas de diversas organizações estarem juntas em uma caravana ajuda a gente a reconhecer os desafios para além da própria comunidade ou organização, nos permitindo um olhar de mais amplo para o território onde estamos”, ressalta o sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e integrante da coordenação da Caravana, André Búrigo.
A Caravana Agroecológica tem como diferencial a produção de um diagnóstico sobre o Submédio do São Francisco a partir de trocas e saberes coletivos e uma análise crítica composta por olhares de pesquisadores, comunidades, técnicos e integrantes de movimentos populares. Como resultado, espera-se realizar e reforçar denúncias de violações de direitos e contribuir para a atuação do Ministério Público da Bahia, pressionar por políticas públicas e sociais, fortalecer a luta de comunidades tradicionais e divulgar experiências agroecológicas e de Convivência com o Semiárido. Uma carta política e um documentário também serão produzidos a partir da Caravana.

“A vivência da Caravana já é um grande resultado. É uma aposta de que devemos e pudemos caminhar juntos, construindo convergências nas ações”, diz Búrigo. As Caravanas Agroecológicas têm sido realizadas por todo o Brasil desde 2013, como estratégia de mobilização de diferentes atores sociais. A do Semiárido Baiano vem sendo construída desde agosto do ano passado, com a participação de cerca de 30 organizações dos âmbitos federal, estadual e que atuam na região do Submédio do São Francisco. O encerramento da Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano será realizado no dia 30, no Espaço Plural da Univasf, em Juazeiro.
Texto: Ascom Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano - Foto: Divulgação

sábado, 17 de junho de 2017

II Seminário Regional da Rede Nordeste de Núcleo de Agroecologia - RENDA


O Núcleo Educação, Pesquisa e Prática em Agroecologia e Geografia (NEPPAG) sediará entre os dias 19, 20 e 21 de junho de 2017, em Recife, o II Seminário Regional da Rede Nordeste de Núcleo de Agroecologia – RENDA. 

O evento é parte do Projeto Rede Nordeste de Núcleos de Agroecologia (Renda-NE/chamada MDA/CNPq Nº 39/2014) coordenado pela professora Mônica Cox de Britto Pereira do Departamento de Ciências Geográficas do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFPE. O Projeto possui 24 bolsistas e 30 Núcleos de Estudo em Agroecologia (NEA) e Centros Vocacionais de Tecnologias (CVT) distribuídos nos 9 estados do Nordeste que estão fortalecendo a Agroecologia nas Universidades, Institutos Federais e Instituições de Pesquisa. 

Ao longo desse tempo, o Renda se propôs a construir e participar de espaços de debates, intercâmbios, trocas de experiências, seminários estaduais, caravanas agroecológicas e culturais, encontros nacionais da Associação Brasileira de Agroecologia, mapeamento e sistematização de experiências. 

Também reuniu centenas de pessoas em distintos territórios nos quais esteve presente, conseguindo entrelaçar discussões a partir de novos enfoques e aprofundamentos para a construção de paradigmas contra hegemônicos. 

Orbitaram as seguintes questões: Qual o tipo de conhecimento que queremos e precisamos? A quem se destina o conhecimento científico? Quem dele se beneficiará? Porque interessa à sociedade apoiar a Agroecologia? 

A Agroecologia é entendida enquanto ciência, movimento e prática. Enquanto ciência que respeita todas as formas de saberes que ao longo de milênios construíram sistemas agroalimentares complexos; enquanto movimento que se organiza e age sob a realidade concreta com respeito à ciência popular; e enquanto prática que cotidianamente transforma os ambientes e relações em busca do bem viver no campo e na cidade. 

Neste seminário que encerra um ciclo de dois anos e meio, queremos trazer como proposta construir as múltiplas redes de mobilização social que estão sendo tecidas por toda região Nordeste e pelo Brasil, nos mais de 100 Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEAs) existentes. 

Os NEAs estão atuando sob realidades e territórios distintos em torno das diferentes temáticas: educação no campo; feminismo; lutas por água, terra e território; reforma agrária; povos e comunidades tradicionais; impactos de grandes obras de infraestrutura, mineração, agronegócio; justiça ambiental; impactos dos agrotóxicos; convivência com o semiárido; juventude do campo; metodologias; educação ambiental; comunicação; extensão rural, etc. Bem viver, Agroecologia, Rede e Acolhimento é o que queremos que sejam os tons do II Seminário Regional Renda, com atitudes que nos permitam construir relações sociais de pesquisa, ensino e extensão próximas e horizontais.

Programação Aberta ao Público – 19.06.2017

Local de abertura da Casa dos Núcleos de Agroecologia do NE: estacionamento do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) – UFPE.

10h00 – Mística de abertura “Casa dos Núcleos de Agroecologia do NE – UM ESPAÇO DA RENDA”

10h15 - Percorrendo a “Casa dos NEAs – A Construção da Rede Renda”

10h – Café da manhã compartilhado

11h – Na Casa dos Núcleos de Agroecologia do NE – UM ESPAÇO DA RENDA construir a “Colcha de Retalhos dos Núcleos de Agroecologia do Nordeste: costurando o Painel da Renda”.

14h – vídeo de sensibilização dos NEAs – Auditório do CCSA

14h30 – Mesa de abertura “A conjuntura política do Brasil: perspectivas e caminhos para construção do conhecimento agroecológico em tempos de golpe”
Debatedoras/es: Flaviane Canavesi (Núcleo Darcy de Agroecologia-UNB/ABA); Franklin Plessmann (Núcleo de Cartografia Social-UFRB/Renda-NE); Soraia Carvalho (Prof.ª Serviço Social e Militante do Movimento Docente-UFPE); Plácido Jr. (CPT-NE); Mediação: Monica Cox de Britto Pereira (NEPPAG-UFPE/Renda-NE)

15h30 – Lançamento do Cadernos de Conflitos do Brasil da CPT 2016 e banca da Expressão Popular.

16h – Debate público

18h – Encerramento
Mais informações: NEPPAG (81) 2126-7371
 

quarta-feira, 7 de junho de 2017

VI Encontrão da TEIA de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão


Por:Vivian do Carmo Loch
 
"Andar só e não estar só.
Sonhar o sonho dos ausentes
Para reparti-lo na chegada.
Compor a imagem do que não vê
E vislumbrar outros caminhos
Que nos levarão.
Abraçar a alma alheia como
Se fosse minha, estendendo
A mão para quem passa.
Sonhar um sonho com o
nome de Revolução.
Pois amar é um ato revolucionário
E só faz a Revolução quem
Souber amar."

Pedro Munhoz


             Entre os dias 25 a 28 ocorreu no Quilombo Alto Bonito, município de Brejo - MA, o VI Encontrão da TEIA de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. O tema do encontro “Não estamos extintos. Estamos de pé, em luta. Esta terra é nossa!” trouxe à tona os conflitos vividos pelos povos do campo, ameaçados constantemente pelo Agronegócio e o modelo de desenvolvimento assumido no Brasil, em especial no Maranhão.
Nos encontros da TEIA se dividem aflições, lutas e glórias, que servem de inspiração e renovam forças e esperanças na construção dos territórios livres. A TEIA do Maranhão surgiu em meados de 2013, nessa perspectiva de união de lutas dos povos do campo e da floresta, como indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, pescadores, ribeirinhos, sertanejos e geraizeiros. Redes como essa se estruturam também em alguns poucos estados do Brasil, como a Bahia.
A frequência dos encontros é de duas vezes ao ano, e nesses intervalos ocorrem os encontros das teias de cada povo tradicional, onde são abordadas suas pautas específicas. A TEIA tece um sonho em comum: territórios livres na construção do bem viver. Tem o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Comissão Indigenista Missionaria (CIMI).
Os encontros são construídos pelo coletivo: grupos se alternam na organização, refeição, limpeza, a fim de que todos possam participar dos debates. Cada delegação contribui com alimentos de seus territórios, bem como material de ornamentação e sementes e mudas para trocas.
Estar nestes espaços é transformador. É possível sentir a energia ancestral que um povo carrega em sua cultura e que este é o elo principal que os conecta com a Mãe Natureza. A Natureza para eles não é apenas fonte de recursos, é fonte de vida, de energia e de significados.

 Ao mesmo tempo em que fortalece e transforma pelo que é, nos traz medos e incertezas diante de uma realidade de massacres e conflitos vividos diariamente. Foram relatadas ameaças, intimidações, mortes, expropriação de camponeses sofridos em todas as regiões do estado. São exemplo os indígenas Akroá Gamella, presentes no Encontro, que sofreram um massacre de repercussão internacional, mas que ainda continuam em luta pela terra. Mudam os nomes e os locais, mas a lógica do Agronegócio se repete da mesma forma. E assim, o Maranhão vem assumindo o posto de um dos estados com maiores índices de violência no campo, segundo dados da CPT.
Além dos Akroá Gamella, estavam presentes indígenas das etnias Krenyê, Krikati, Gavião, Krepym Katejê, Pataxó Hã Hã Hãe (do estado da Bahia), comunidades quilombolas, quebradeiras de coco, sertanejos, geraizeiros, pescadores artesanais, ribeirinhos, camponeses e seringueiro do Acre.
Os grupos compartilharam também experiências exitosas, como a comunidade Quilombola Nossa Senhora de Nazaré, que vem construindo uma educação contextualizada e popular com seus moradores. Envolvendo toda a comunidade e transformando a forma de ensinar no local.
O sindicalista Osmarino Amâncio dividiu sua inspiradora história de vida voltada para a luta de castanhais e seringais livres. Contou como se organizavam os seringueiros, as abdicações e enfrentamentos que são necessários para algumas conquistas. E Joelson Ferreira, representante da TEIA da Bahia, falou sobre a construção do Bem Viver nos territórios.
Ao longo do Encontro muitas músicas, danças, rezas, troca de experiências, afeto e solidariedade. Por fim, foram propostos encaminhamentos e atividades por grupo tradicional, terminando com uma troca de sementes e mudas, a leitura da Carta Final do VI Encontrão da TEIA* e muita cantoria.

A TEIA faz brotar sementes de esperanças em nossos corações, regadas com sonhos de um campo que seja mais justo e adubadas com o amor que constrói o Bem Viver e reconstrói nossas conexões com a Natureza.
Viva os povos do campo e da floresta!
Territórios livres já!



* VI ENCONTRÃO DA TEIA DE POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DO MARANHÃO
                                                                          DOCUMENTO FINAL


“NÃO ESTAMOS EXTINTOS. ESTAMOS DE PÉ, EM LUTA. ESTA TERRA É NOSSA!
Nós, povos indígenas Akroá Gamella, Krenyê, Krikati, Gavião, Krepym Katejê, Pataxó Hã Hã Hãe da Bahia, comunidades quilombolas, quebradeiras de coco, sertanejos, geraizeiros, pescadores artesanais, ribeirinhos, camponeses e seringueiros do Acre, com o apoio solidário e militante da Comissão Pastoral da Terra/CPT, do Conselho Indigenista Missionário/CIMI, do Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco/MIQCB, Irmãs de Notre Dame, Movimento de Comunidades Populares/MCP, Teia de Povos da Bahia, Diocese de Brejo, Núcleo de Estudos e Pesquisa em questão Agrária/NERA, CSP Conlutas, Coletivo Nódua, Centro de Defesa de Açailândia, Grupo de Estudo em Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente/GEDMMA, Núcleo de Estudos Geográficos/UFMA, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia/Campus Pinheiro, Rede de Agroecologia do Maranhão/RAMA, nos reunimos no território quilombola Alto Bonito, Brejo/MA, nos dias 25 a 28 de maio de 2017, para o VI Encontro da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão.
Bebendo da experiência dos seringueiros de Xapuri (Acre), dos povos da Bahia, e dos muitos relatos da nossa gente, afirmamos a nossa autonomia na segurança, na educação, na produção, na autogestão e no Bem Viver!
Denunciamos o modelo de desenvolvimento que tem se perpetuado no Brasil, explorador e concentrador de riquezas que, para alcançar o máximo de exploração da natureza precisa negar nossa existência, nossa cultura e nossos modos de vida, atuando violentamente no extermínio de povos e comunidades, como ocorrera com camponeses em Colniza no Mato Grosso, com o Povo Akroá-Gamella no Maranhão e com os camponeses em Pau D’arco, no Pará.
Reafirmamos a luta no enfrentamento com o agro-hidro-minero-negócio, o Parque Eólico nos Lençóis Maranhenses, gaúchos, fazendeiros, madeireiros, empresas nacionais e internacionais (mineradora Vale, Suzano Papel e Celulose S. A., WPR Gestão de Portos e Logísticas de São Luís, WTorre, Grupo Maratá, Grupo FC Oliveira, e outras). Nossos inimigos contam o aparato do Estado brasileiro, tais como o Executivo, Legislativo e Judiciário, o ICMBio, em todas suas esferas, além do braço armado do Estado – Polícia Militar, Civil e Federal -, que historicamente são instrumentos de repressão de nossos povos e a criminalização de nossas lutas, além da uso permanente de jagunços e pistoleiros.
Reafirmamos os princípios do Bem Viver, que passa pela retomada dos nossos territórios, da nossa autonomia, pela garantia da soberania alimentar, manutenção da nossa cultura e modo de vida.
Nossa força vem dos encantados, vem dos nossos antepassados, vem dos nossos mártires, de sentir a força da mãe-terra quando pisamos em nosso chão. É uma força que jamais será silenciada, que permanece sempre viva quando nos encontramos e nos sentimos.
A partilha das experiências de insurgências alimenta o nosso espírito e reafirma a luta pela terra e pelo território e os laços entre povos estabelece novos vínculos históricos de resistência.
Esse governo que está destruindo o Brasil não nos representa! Fora Temer! Fora todos eles!
ESTA TERRA TEM DONO! (Sepé Tiaraju)
Quilombo Alto Bonito, Brejo dos Maypurá, 28 de maio de 2017.

Texto: Vivian do Carmo Loch, doutoranda em Agroecologia pela Universidade Estadual do Maranhão - Rede de Agroecologia do Maranhão.
Fotos: Eanes Silva 
Edição: Domênica Rodrigues - RENDA