quarta-feira, 7 de junho de 2017

VI Encontrão da TEIA de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão


Por:Vivian do Carmo Loch
 
"Andar só e não estar só.
Sonhar o sonho dos ausentes
Para reparti-lo na chegada.
Compor a imagem do que não vê
E vislumbrar outros caminhos
Que nos levarão.
Abraçar a alma alheia como
Se fosse minha, estendendo
A mão para quem passa.
Sonhar um sonho com o
nome de Revolução.
Pois amar é um ato revolucionário
E só faz a Revolução quem
Souber amar."

Pedro Munhoz


             Entre os dias 25 a 28 ocorreu no Quilombo Alto Bonito, município de Brejo - MA, o VI Encontrão da TEIA de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. O tema do encontro “Não estamos extintos. Estamos de pé, em luta. Esta terra é nossa!” trouxe à tona os conflitos vividos pelos povos do campo, ameaçados constantemente pelo Agronegócio e o modelo de desenvolvimento assumido no Brasil, em especial no Maranhão.
Nos encontros da TEIA se dividem aflições, lutas e glórias, que servem de inspiração e renovam forças e esperanças na construção dos territórios livres. A TEIA do Maranhão surgiu em meados de 2013, nessa perspectiva de união de lutas dos povos do campo e da floresta, como indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, pescadores, ribeirinhos, sertanejos e geraizeiros. Redes como essa se estruturam também em alguns poucos estados do Brasil, como a Bahia.
A frequência dos encontros é de duas vezes ao ano, e nesses intervalos ocorrem os encontros das teias de cada povo tradicional, onde são abordadas suas pautas específicas. A TEIA tece um sonho em comum: territórios livres na construção do bem viver. Tem o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Comissão Indigenista Missionaria (CIMI).
Os encontros são construídos pelo coletivo: grupos se alternam na organização, refeição, limpeza, a fim de que todos possam participar dos debates. Cada delegação contribui com alimentos de seus territórios, bem como material de ornamentação e sementes e mudas para trocas.
Estar nestes espaços é transformador. É possível sentir a energia ancestral que um povo carrega em sua cultura e que este é o elo principal que os conecta com a Mãe Natureza. A Natureza para eles não é apenas fonte de recursos, é fonte de vida, de energia e de significados.

 Ao mesmo tempo em que fortalece e transforma pelo que é, nos traz medos e incertezas diante de uma realidade de massacres e conflitos vividos diariamente. Foram relatadas ameaças, intimidações, mortes, expropriação de camponeses sofridos em todas as regiões do estado. São exemplo os indígenas Akroá Gamella, presentes no Encontro, que sofreram um massacre de repercussão internacional, mas que ainda continuam em luta pela terra. Mudam os nomes e os locais, mas a lógica do Agronegócio se repete da mesma forma. E assim, o Maranhão vem assumindo o posto de um dos estados com maiores índices de violência no campo, segundo dados da CPT.
Além dos Akroá Gamella, estavam presentes indígenas das etnias Krenyê, Krikati, Gavião, Krepym Katejê, Pataxó Hã Hã Hãe (do estado da Bahia), comunidades quilombolas, quebradeiras de coco, sertanejos, geraizeiros, pescadores artesanais, ribeirinhos, camponeses e seringueiro do Acre.
Os grupos compartilharam também experiências exitosas, como a comunidade Quilombola Nossa Senhora de Nazaré, que vem construindo uma educação contextualizada e popular com seus moradores. Envolvendo toda a comunidade e transformando a forma de ensinar no local.
O sindicalista Osmarino Amâncio dividiu sua inspiradora história de vida voltada para a luta de castanhais e seringais livres. Contou como se organizavam os seringueiros, as abdicações e enfrentamentos que são necessários para algumas conquistas. E Joelson Ferreira, representante da TEIA da Bahia, falou sobre a construção do Bem Viver nos territórios.
Ao longo do Encontro muitas músicas, danças, rezas, troca de experiências, afeto e solidariedade. Por fim, foram propostos encaminhamentos e atividades por grupo tradicional, terminando com uma troca de sementes e mudas, a leitura da Carta Final do VI Encontrão da TEIA* e muita cantoria.

A TEIA faz brotar sementes de esperanças em nossos corações, regadas com sonhos de um campo que seja mais justo e adubadas com o amor que constrói o Bem Viver e reconstrói nossas conexões com a Natureza.
Viva os povos do campo e da floresta!
Territórios livres já!



* VI ENCONTRÃO DA TEIA DE POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DO MARANHÃO
                                                                          DOCUMENTO FINAL


“NÃO ESTAMOS EXTINTOS. ESTAMOS DE PÉ, EM LUTA. ESTA TERRA É NOSSA!
Nós, povos indígenas Akroá Gamella, Krenyê, Krikati, Gavião, Krepym Katejê, Pataxó Hã Hã Hãe da Bahia, comunidades quilombolas, quebradeiras de coco, sertanejos, geraizeiros, pescadores artesanais, ribeirinhos, camponeses e seringueiros do Acre, com o apoio solidário e militante da Comissão Pastoral da Terra/CPT, do Conselho Indigenista Missionário/CIMI, do Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco/MIQCB, Irmãs de Notre Dame, Movimento de Comunidades Populares/MCP, Teia de Povos da Bahia, Diocese de Brejo, Núcleo de Estudos e Pesquisa em questão Agrária/NERA, CSP Conlutas, Coletivo Nódua, Centro de Defesa de Açailândia, Grupo de Estudo em Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente/GEDMMA, Núcleo de Estudos Geográficos/UFMA, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia/Campus Pinheiro, Rede de Agroecologia do Maranhão/RAMA, nos reunimos no território quilombola Alto Bonito, Brejo/MA, nos dias 25 a 28 de maio de 2017, para o VI Encontro da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão.
Bebendo da experiência dos seringueiros de Xapuri (Acre), dos povos da Bahia, e dos muitos relatos da nossa gente, afirmamos a nossa autonomia na segurança, na educação, na produção, na autogestão e no Bem Viver!
Denunciamos o modelo de desenvolvimento que tem se perpetuado no Brasil, explorador e concentrador de riquezas que, para alcançar o máximo de exploração da natureza precisa negar nossa existência, nossa cultura e nossos modos de vida, atuando violentamente no extermínio de povos e comunidades, como ocorrera com camponeses em Colniza no Mato Grosso, com o Povo Akroá-Gamella no Maranhão e com os camponeses em Pau D’arco, no Pará.
Reafirmamos a luta no enfrentamento com o agro-hidro-minero-negócio, o Parque Eólico nos Lençóis Maranhenses, gaúchos, fazendeiros, madeireiros, empresas nacionais e internacionais (mineradora Vale, Suzano Papel e Celulose S. A., WPR Gestão de Portos e Logísticas de São Luís, WTorre, Grupo Maratá, Grupo FC Oliveira, e outras). Nossos inimigos contam o aparato do Estado brasileiro, tais como o Executivo, Legislativo e Judiciário, o ICMBio, em todas suas esferas, além do braço armado do Estado – Polícia Militar, Civil e Federal -, que historicamente são instrumentos de repressão de nossos povos e a criminalização de nossas lutas, além da uso permanente de jagunços e pistoleiros.
Reafirmamos os princípios do Bem Viver, que passa pela retomada dos nossos territórios, da nossa autonomia, pela garantia da soberania alimentar, manutenção da nossa cultura e modo de vida.
Nossa força vem dos encantados, vem dos nossos antepassados, vem dos nossos mártires, de sentir a força da mãe-terra quando pisamos em nosso chão. É uma força que jamais será silenciada, que permanece sempre viva quando nos encontramos e nos sentimos.
A partilha das experiências de insurgências alimenta o nosso espírito e reafirma a luta pela terra e pelo território e os laços entre povos estabelece novos vínculos históricos de resistência.
Esse governo que está destruindo o Brasil não nos representa! Fora Temer! Fora todos eles!
ESTA TERRA TEM DONO! (Sepé Tiaraju)
Quilombo Alto Bonito, Brejo dos Maypurá, 28 de maio de 2017.

Texto: Vivian do Carmo Loch, doutoranda em Agroecologia pela Universidade Estadual do Maranhão - Rede de Agroecologia do Maranhão.
Fotos: Eanes Silva 
Edição: Domênica Rodrigues - RENDA
 



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